Javier Otazu Cairo, 28 jun (EFE).
A morte de uma menina de 12 anos duranteuma operação de retirada do clitóris na semana passada gerou uma crítica nacional e levou o Governo do Egito a proibir definitivamente esta prática, que data dos tempos faraônicos. Bodur Ahmed Shaker morreu quando uma médica realizava a operação em uma clínica particular, uma das milhares de cirugias feitas diariamente no Egito para retirar o clitóris das adolescentes. Calcula-se que em torno de 90% de mulheres em idade fértil sofreram esta operação, tecnicamente chamada "mutilação genital feminina", mas as campanhas governamentais dos últimos dez anos conseguiram diminuir esta percentagem consideravelmente. A diretora do Conselho Nacional da Infância e da Maternidade, Muchira Khatab, uma das mulheres mais envolvidas na luta contra a ablação, disse à agência Efe que um recente estudo de seu organismo feito com cerca de seis mil adolescentes de entre 10 e 18 anos mostrou que "apenas" a metade delas tinha sofrido a intervenção. A ablação é praticada nos países ao longo do rio Nilo desde os tempos faraônicos, e depois se estendeu pelo oeste da África, mas não tem relações com o islã ou o cristianismo, embora as duas religiões tenham aceitado durante séculos a mutilação feminina como meio de controle sexual e social. No entanto, as hierarquias muçulmanas e cristãs, pressionadas pela classe política, passaram da mensagem de que "a ablação não é obrigatória" para declará-la como "pecado", como fez na segunda-feira a máxima autoridade teológica muçulmana do Egito, mufti Ali Gomaa. Resta saber se a declaração do mufti será seguida pelos xeques religiosos de povoados e bairros, mais ligados a suas tradições que ao dogma da religião. Segundo a diretora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Egito, Erma Mannoncourt, o país se distingue porque ali a prática é realizada na maioria dos casos (60%) por médicos, enquanto em outras nações a ablação é feita pelo barbeiro do bairro. Extirpar o clitóris de uma menina em uma clínica com todas as condições higiênicas pode ser conseguido por um mínimo de 50 libras egípcias (€ 7,00), em uma operação que dura apenas 10 minutos. A implicação da classe médica nas operações a transformou em cúmplice, e o médico dava á ablação um "adicional" de legitimidade, como denunciou recentemente o Centro Nacional para os Direitos das Mulheres. Após um congresso regional sobre a violência infantil realizado na quarta-feira, a mulher do presidente do Egito, Suzzane Mubarak, organizou uma reunião com os ministros de Saúde, Educação e Informação, algúns de líderes religiosos e o Sindicato de Médicos, para proibir definitivamente a ablação e punir quem a realize, disse Muchira Khatab, também presente no encontro. Da mesma forma que na Europa se tolera o aborto "por razões médicas", no Egito também se tolerava a ablação "caso fosse comprovada a necessidade médica", mas essa frase, que representava uma brecha legal, foi eliminada por um decreto do Ministério da Saúde divulgado hoje. O Sindicato de Médicos, que até agora tinha fechado os olhos para o envolvimento de seus membros na mutilação genital, foi obrigado a enviar uma circular, na qual adverte sobre as punições que passarão a ser aplicadas. A clínica particular onde a menina Bodur Ahmed Shaker morreu foi fechada pelo governador da província. A médica que operava a menina quando ela morreu ofereceu 15 mil libras egípcias (cerca de € 2 mil) para comprar o silêncio da mãe de Shaker, que se recusou a aceitar o suborno e contou tudo a um jornal. Depois das declarações, foram iniciadas pressões que provocaram a proibição definitiva da prática, pelo menos oficialmente. Agora, basta aguardar para que a decisão passe a ser respeitada também na prática. EFE
28 junho 2007
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